Núcleo de Comunicação Comunitária SM no Ar

Um lugar de mim mesmo

Voltei ao lugar do qual nunca saíra.

Encontrei um sabiá a saltitar antes do canto,

foi num canto para mim encantado do Jardim da Luz.

As folhas caiam em pleno verão. 
Namorava-se o outono

e a água corria no lago 
feito a vida a correr 
em tantos tempos diversos.

Brotaram então tantos versos versados nos rostos

dos personagens dessa e de outras manhãs. 

O relógio da Luz bateu foi dez horas,

hoje não embarco, é sábado,

descanso no banco.

Na estação mais um trem

aguarda na plataforma,

destino: viver Jundiaí.  

O trem Guaianazes divide

o espaço ferroviário,

e do outro lado

outros trilhos.  

Outro segue  

para Francisco Morato,

um outro mais para Rio Grande da Serra

entrecorta o ABC e a várzea do Carmo

rio Tamanduatei.

Um pernilongo morde o calcanhar do menino.

O tempo passou e esse menino envelheceu,

mas o trabalho-poiesis açula os sentidos

para sentir Tudo e a Todos

como se fosse

surpreendente

descoberta.

Um coquinho do Jerivá

cutuca o seu corpo,

bicho – preguiça

na árvore,

espreguiça,

atiça olhar

para essa

vida,

vivida nesse instante

de outra maneira, 

a que quase

esquecera.

Sentado num banco do parque,

ao lado de um asiático,

converso calado

com o tronco

d’árvore,

depois de um tombo,

lá nas terras de Santo Antonio,

bioma Mantiqueira,

que se mistura a Cantareira,

num janeiro recente,

presente lição de vida,

cautela menino,

só falta agora

voltar à poesia,

num propósito sublime

de se orientar e orientar

os seus entes,

para cuidar

dos frutos,

plantar,

semear

e seguir os caminhos,

sem desculpas

de um passado – passado.

A poesia nos obriga

a não ter desculpas

pela falta de empenho

em ser feliz.

Voltei ao lugar do qual nunca saíra.

encontrei a mim mesmo:

nossa, a quanto tempo.