sexta-feira, 11 de julho de 2014
A vértebra tão sensível da civilidade
Não há como não sentir dor
Dias atrás, sorríamos de alegria e
felicidade. Ah, nossa vértebra de menino, uma cinta amarra também o nosso
grito. Contidos, seguimos de cabeça erguida, até mesmo sem o grande capitão,
somente com a pedra de Davi, numa chapa de quem tem o pé “dez para as duas”,
similar a pé de anjo, a estufar as redes de Bogotá.
Oh Zuñiga e seu joelho a “sacizar” o
Curupira que já sentira cacetadas do povo da cordilheira, bicos de chancas nos
tornozelos, nessas terras brasileiras, na Fortaleza patriota, em que a
civilidade lustra a “pátria de chuteiras” e a certeza de que no Ceará não tinha
disso não: essas entradas violentas como essa a quebrar a vértebra da pátria,
provocando comoção no território nacional.
E nós que também entramos em campo,
mesmo sem tocar na bola, não vencemos os vindos de além - mar que se
organizaram e interviram para erradicar as mumunhas extra – campos, a trazer transparência
para esse esporte que apaixona bilhões, o qual para ser jogado, da melhor
maneira possível, faz-se necessário uma política que alie educação, esporte,
ética e, sobretudo, aplicação e modernização. Eles voltarão para Alemanha,
campeões ou não, mas com a benção dos deuses do futebol e a certeza de um
trabalho que precisa nos influenciar.
Nas Minas Gerais, um Belo Horizonte se
tornou feio, um dia nublado, antes a manhã prenunciara a revelação de nossos
defeitos e contradições. A festa e o coito interrompidos e a vértebra da
civilidade se revela tão frágil. Nossos apoiadores, patrocinadores insistem que
a festa não podia acabar e nem nosso Chopp de milho azedar. Aliás, “sei que
estás em festa pá, fico contente” só ficamos ausentes da final, mas guardem um
gol com cheiro de cravo para mim.
Nas bordas desse gigante encantado, nesses
momentos em que cada um de nós se orgulhava de ser brasileiro, cheios de civilidade advinda
de uma sensação provocada pela sociedade do espetáculo, ou do espetáculo da
sociedade, ou ainda da sociedade em espetáculos, pulularam jogadas que
culminaram em sete pecados capitais, sete gols contra nossa cidadela.
É sempre bom lembrar e observar que a
civilidade verificada metaforiza-se, dentre outras figuras, em uma vértebra
frágil e sensível. Advinda da disputa nos campos de futebol, essa civilidade, reflete
nosso patriotismo no cantar capela de nosso hino. Dominar o adversário,
conquistar e quiçá vencer, num movimento a refletir a geopolítica: colonizadores,
colonizados, neo – colonizadores, entre mutretas, trambiques, cutrucas, trâmites
escusos, impensadas atitudes, falta de tática, técnica, preparo e ética. Porém a
felicidade, a partir dos penaltys defendidos, ultrapassa as dimensões dos
estádios e contagia essa “brava gente brasileira”, ou melhor, “simpática e
acolhedora gente brasileira”.
Precisamos ultrapassar o logos,
intervir no lócus, no ergo, no foco de nossas desventuras e desigualdades.
Nosso time acanhado chorou com lágrimas similares a quem vive dentro e às
margens de nossos rios, morros e quebradas. São Davis, Julios, Silvas,
Paulinhos – meninos, neguinhos, pretinhos Ramires, Daniéis sem Barcelona, caídos
na Real e não no Real Madrid, a não poder tocar com profundidade a bola da
justiça social, sempre considerados em impedimento, pobres Fredinhos com os pés
a inspirarem improváveis novos Portinaris sem telas e tintas, ou Vilas Lobos
sem pianos, Nelsons sem cavaquinhos, Mano Brows sem manos e Pixinguinhas sem
carinhosos sopros diante de ausência de políticas sociais para nossas crianças
e adolescentes.
E nas arquibancadas de nossas escolas
as “pixações” autorizadas são bandeiras coladas sobre os muros que nos separam,
sobre a fome que nos revela, sobre a esmola que nos ampara, sobre o sudário que
revela o nosso desatino. O estádio e o estado se calam. Silêncio. Julho de 2014
ou todas as datas que nos cabem nesse infortúnio, nesse 7 a 1, nesse
desconfortável resultado dentro e fora do campo.
Como dizia Nelson Rodrigues “até os
defuntos choraram” por essa vértebra
tão sensível e frágil: a nossa realidade. Não há como não sentir dor !
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