sexta-feira, 8 de maio de 2015

Linha da vida: Luz - Ururai


Caminhamos pelas interações para um bem viver juntos,
sempre a contar com sementes aladas para germinar
coautorias de crianças, jovens e adultos a intervir
nesses territórios dentro e fora da gente.

A porta do trem abriu e os olhos vividos acolheram retratos, rostos, jeitos, desejos e sentimentos. O dia ensaiou chuva e alguns raios de sol insistiram em transpassar as nuvens cheias de água transpiradas da terra e agora condensadas. Havia perspectiva de arco – íris, e  as nossas íris bailavam num abrir – fechar, ajustar, mais luz, menos luz, passagem, mais brilho, menos brilho, luminância nos contrastes da cidade.
               Algumas quaresmeiras no Carrão e os hibiscos a margear a linha de um trem, lentamente permitiam a visualização dos barracos e moradias misturados aos córregos de uma Prudente Vila. Tudo isso, mais os sentimentos de cidade que invadiam meus pensamentos, tornava visível a invisibilidade concreta, tornava visível o invisível imaterial, até mesmo o que nos move sem necessariamente movimentar o corpo.  
               Dentro da composição perguntava, ao ritmo da percussão das porcas e arruelas do vagão, mais os tremeliques das portas, qual o sentido desse sentido itinerário da Luz para os caminhos de Ururaí? Seguia. Trajeto físico, pensamento e os anímicos sentimentos somados aos ideais de trabalhar e colaborar para um viver bem, nessas terras, nesses vãos, nessas águas, numa soma de aplicação laborial, generosidade, algumas competências e energia gerada na espiritualidade dos animados seres e das coisas laborans, faber, ludens, vida do espírito, num pensar, querer e julgar, entre o passado e o presente, na nossa condição humana, num acreditar em que um outro mundo é possível. Lembrei de Hanna Arendt...  
               Lá está o rio, resquício de mata ciliar, crianças a correr nos campos tomados por habitações, várzeas de sonhos, proteções, contenções, ciência e estudos. Um muro entrecortado e um acesso separam e unem a universidade e a estação de nossos dias nesses trilhos e vias. O outono. Vento sopra as folhas, atípica chuva, garoa forte devolve aos entes fluviais a generosidade das águas do céu. Mananciais brotam nas casas e gentes, tantas gentes, em meio ao lodo artificial e  vertiginoso produzido por todos os citadinos.
               Santa Bárbara, Ipê e Flamboyant no Ermelino, insisto a indagar sobre tantas idas e vindas, a encontrar vidas e paineiras a respirarem nas bordas. São as bordas do planalto, suas baixadas, seus percalços, são meninos e meninas descalços ou com tênis de finos tratos e contratos. São desejos de ser, de crescer dessas crianças vagalumes, pontinhos de cidade, mais tarde adolescentes como tantos com os quais convivi em ritos de aprender e ensinar.
Renan, Marcos Wesley, Edileuza, Flávia, Flaviane, Raquel, Natalia, Diogo, Renato, Alexandre, Alex, Danielle, Alisson, Jhonny, Marcos, Jessica, Rodrigo, Camila, Lucas, João, Raphaela, e tantos outros, centenas mais próximos, milhares nas escolas, nas esquinas, nas feiras, nas quebradas do mundo, e agora, mais uma vez, encontra-los na memória e no presente, ao descer na Estação São Miguel caminhar até o Lapenna, jardim com casas em meio às águas e várzeas da vida de um rio, das garças, dos Tiês, da vida...
Sim, o tempo passou tantos outros meninos e meninas nasceram e são ... habitantes entre – córregos, nas terras de senhorios públicos ou privados, privados em meio aos direitos privados e perversos dos poucos e parcos espaços públicos, nesse amontoado de coisas, rés, ruas estreitas e curtas, um sopro, como a vida tão tênue, tão breve...
Talvez considerar destino, reconsiderar desatinos, viver e reviver momentos em que vimos os pequenos tornarem-se grandes e arranjar, rearranjar, criar condições de seguir e eles seguem. Talvez precisasse, nesse momento, embarcar numa estação da arte e ter humildade de afirmar que nada sei, pois são sentimentos, emotividade a tensionar essa lida de aprender e educar com esses tantos seres humanos, crianças e jovens desse jardim dentro da imensa Aldeia de Ururai protegido por um Arcanjo Miguel e por Cosme e Damião, muitas vezes,  a “única proteção” – diria o poeta Mano.   

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