quarta-feira, 4 de novembro de 2015
Cidade Adentro
Educação + Democracia
+ Culturalidades + Sustentabilidade + Tecnologia
“O homem não vê
o universo a partir do universo,
o homem vê o
universo desde um lugar”
Milton Santos
Pensar a cidade
como forma sensível de civilização, exige substancialmente processos e
itinerários socioeducativos que dialoguem com inovações cívicas. As comunidades
que vivem realidades complexas de subcidadania necessitam ter acesso às
inovações e tecnologias que dialoguem com o desenvolvimento e qualificação de sua
participação comunitária, o que para tanto compreende aliar tecnologias de
comunicação, interculturalidades, linguagens midiáticas e disponibilizar fluxos
informacionais que permitam funcionalidades informativa, participativa e
interativa, o que permite estabelecer controle social, processo educativo e
entendimento por parte das pessoas que vivem as vulnerabilidades provocadas por
modelos ineficazes de desenvolvimento urbano que até hoje não garantiram o
direito desse público à cidadania.
Assim, desde 2008 trilhamos um caminho com adolescentes
e jovens de São Miguel, dentro e fora da escola com projetos de educomunicação,
intervenção social, processos e ações voltadas à conexão dos espaços educativos
com os territórios, com os lugares onde se vive. São adolescentes, jovens e
educadores com os quais desenvolvemos juntos, habilidades e jogos arte –
comunicacionais para provocar descobertas e estímulos sensoriais -
ecossistêmicos nas linguagens audiovisual, literária, musical, poética e de
reflexão histórica – política – social. Assim, passamos a conviver com as
possibilidades de produção de conhecimento alimentada por inteligências
colaborativas, facilitadas também pelas tecnologias da contemporaneidade.
Experimentações dentro e fora dos muros das
escolas, modos e processos com finalidade “comunicativa – comunitária” organizados
em sequências didáticas em sintonia com as atividades permanentes e ocasionais
das escolas ou dos projetos, atividades nascidas e geradas nas descobertas dos
jovens em relação aos campos de atuação, autorias e intervenções nos
territórios físico e subjetivo.
Aprendemos nessa jornada que os impactos sonhados
e projetados pelos jovens quando da identificação da possibilidade da exercer
ativamente a participação, sentimento e corresponsabilidade pela vida e pelo
equilíbrio dos seres animados e inanimados de um lugar, num princípio de
leitura do mundo, configura uma postura política, isso sempre nos estimularam a
prosseguir num caminho que identificamos talvez como transdisciplinar, o que, mais
tarde relendo Basarab Nicolescu, propõe a consideração de uma realidade
multidimensional, estruturada em múltiplos níveis, substituindo a realidade
unidimensional, com um único nível.
Dessa forma, adentramos um aprendizado que passa a
ter o direito à cidade como pressuposto fundamental, visitando e compreendendo
a importância das plataformas colaborativas, o controle social e do “mangue
ativo gerador” de propostas para mudar as múltiplas realidades, advindas do
interesse, sobretudo dos jovens, em estudar o lugar onde vivem, compreender a
cidade sistêmica e organicamente a partir de aprendizados sobre a função social
e a organicidade do território e, nessa ambiência, provocar o olhar para a
comunidade e para a escola pública, nosso objeto mais afetivo numa certeza de
que a escola se reinventa sempre.
Seguimos assim um caminho, uma “percorrida” que
além de constatar e intervir remete a todos com os quais aprendemos e nos
relacionamos, conhecer com profundidade o real e o possível somado à
necessidade da existência de lampejos utópicos numa dimensão política, entre os
sonhos e o necessário para a redução das desigualdades, o que requer trabalhar
com o altruísmo da reciprocidade, com o compartilhamento e o engajamento em
rede, considerando o presencial e a ocupação cultural e pedagógica do espaço
público, importantes “arregimentadores” de saberes, sentidos e de ideias.
Entendemos também que as tecnologias da
contemporaneidade impulsionam a multiplicação de espaços e rodas para semear um
ativismo com potência democrática e estética política que permitem estudar as
causas da pobreza e o surgimento de uma nova forma de se educar e viver para a
igualdade e equidade o que implica ter consciência de que é nosso corpo, nossos
sentidos e ideias que movimentam a rede (autoria), de que habitar é mais do que
estar aqui, ali, acolá, habitar é se relacionar, compor e entender o organismo
da cidade e seu funcionamento para interagir e, consequentemente, voltar-se para
uma cultura participativa e democrática.
Existem em
São Paulo muitas experiências educomunicativas estimuladas, sobretudo, pela Sociedade Civil que dialogam com escolas
públicas e que são merecedoras de elogios. Nossas experiências na região de São
Miguel e Itaim permitiram configurar um universo relacional de educadores e de educandos,
colaboradores geradores de experiências, práticas e intervenções que dialogam
com o ciclo autoral e ensino médio e, recentemente identificados com alguns itinerários
formativos dos professores da rede municipal.
Assim, o que foi construído colaborativamente, passou
a contribuir para com as interações e
relações entre as pessoas no sentido de fazer com que as potências juvenis, no
nosso caso com uma metodologia que se identifica com os conceitos da
educomunicação, possam comungar propostas e discuti-las. Para tanto o Galpão de
Cultura e Cidadania teve papel preponderante, pois abrigou desde 2008, um
verdadeiro laboratório real e, sobretudo, encontros entre as escolas do Projeto
Jovem Comunica, para que as trocas, o compartilhamento e um ativismo coletivo
pudessem ser percebidos por todos, frutos do trabalho de educadores da Fundação
Tide Setubal no chão das escolas com grupos híbridos de educadores e educandos.
Muitas das
23 escolas com as quais nos relacionamos ao longo desses oito anos desenham uma rede de comunicação e de produção de conhecimento compartilhados sobre
seus territórios e saberes, com suas intervenções e
exemplaridades.
Os momentos vividos e as experiências fortaleceram
nossas intenções de levar adiante um desejo de dialogar com as escolas públicas de São Miguel, numa perspectiva possível de investir num movimento que permita contribuir para um movimento epistemológico da periferia para o centro, compartilhando os saberes com a cidade. Hoje participamos do processo de provocar o pensar e o agir para o
fortalecimento da escola pública, por meio das formações de educadores dos
ciclos Interdisciplinar e autoral, aprendendo muito com educadores, gestores,
como também com as equipes formadoras da Diretoria Regional de Educação de São
Miguel.
E há dois anos um grupo de jovens do Projeto
Intermídia Cidadã, participantes ativos das ações de mobilização comunitária no
Jd Lapenna, suas intervenções arte – comunicacionais no espaço público,
verdadeiros colaboradores das ações nas escolas públicas e nas ruas de São
Miguel do que passamos a chamar de letramento político, em meio ao
desenvolvimento de habilidades e de conhecimento em sintonia com intencionalidades
de sustentabilidade social, beneficiados por uma política pública municipal de
transferência de renda, bolsa – trabalho idealizaram um aplicativo denominado “Cidade
Adentro” que tem como proposta incentivar os debates virtuais a cerca do
encaminhamento das políticas públicas e oferecer informações sobre a esfera
política de uma cidade.
Essa ideia ganhou corpo e dialoga com tecnologias digitais
e com telefonia celular pela sua ubiquidade, uma verdadeira proposta de mídia
cívica com potencial para interagir com a cidade e exercer um papel
preponderante para disseminar a cultura da participação na polis. Essa
cocriação juvenil despertou o interesse de atores que tem como viabilizar tecnicamente
seu desenvolvimento, o processo de disseminação / difusão e a dinâmica
participativa que advém de suas possibilidades. Esse é um dos frutos dessa
caminhada, o qual pode despontar, porém tantos outros olhares, significados,
impactos e frutos já despontaram, como por exemplo, jovens que estão na
universidade estudam e se aprofundam em questões que vivenciaram nas ações e
provocações educomunicacionais identificadas com o desenvolvimento humano.
Além disso, no Curso de Especialização de Educomunicação
da Universidade de São Paulo, coordenado pelo Professor Ismar de Oliveira
Soares, as experiências do Núcleo de Comunicação Comunitária da Fundação Tide
Setubal, são objetos conteudísticos dessa formação.
Como disse o
geógrafo Milton Santos: “O homem não vê o universo a partir do universo, o
homem vê o universo desde um lugar”. Olhando para o território em que vive sob
a perspectiva dos direitos, desejamos, sempre, que a comunidade torne-se
protagonista da sua luta por direitos, verdadeiros agentes transformadores da
própria história.
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